Cinema

Preto e branco: nova tendência no cinema?

Não entendeu o propósito do relançamento de Logan e Mad Max em preto e branco? Nós te explicamos.

há 6 anos 10 meses

Após conquistar crítica e público - arrecadando US$607 milhões mundialmente -, o filme Logan, que chegou aos cinemas em versão colorida em março desse ano, retornará às telas e em home video em preto e branco. Logan Noir será exibido pela rede Cinemark em uma sessão exclusiva no dia 29 de maio, às 20h30, e seu anúncio despertou o debate acerca do “reaproveitamento” de títulos para relançamento em preto e branco.

Algo similar aconteceu em 2016 com Mad Max: Estrada da Fúria. Após levar seis dos principais prêmios técnicos do Oscar de 2016, o filme foi relançado no fim do ano em uma versão Black & Chrome. Seria essa uma nova tendência do cinema, onde os diretores têm a oportunidade de explorar melhor sua visão daquele universo ou apenas mais um caça-níquel das distribuidoras?

“Retrocesso do cinema”

Em primeiro lugar, é preciso desmistificar o preto e branco como um “retrocesso do cinema”. Qualquer linguagem cinematográfica - seja ela o som, as cores, o 3D - é fruto, sim, de avanços tecnológicos. Mas esses recursos devem estar presentes em uma narrativa visual apenas quando fazem sentido naquele contexto.

O Artista (2011), que levou o Oscar de Melhor Filme em 2012, é um filme mudo e em preto e branco que retrata uma importante transição que o cinema sofreu na década de 20: a chegada do som. Retratar aquele universo sem cores, sem falas e em uma tela quase quadrada está em sintonia com os filmes produzidos na época. Há no longa uma rima visual narrativa entre essa produção - mesmo que contemporânea - e os filmes do tempo em que a história se passa.

Mas isso não significa que o filme teria menor valor caso fosse apresentado de maneira diferente. Cantando Na Chuva (1952) retrata esse mesmo momento de transição que Hollywood sofreu, mas é apresentado com falas e colorido. São apenas duas visões diferentes de um mesmo período, apresentadas por diferentes diretores que quiseram imprimir sua marca em suas produções.

Fazer hoje um filme mudo, em preto e branco ou com a tela quadrada não é um retrocesso, mas apenas a forma de contar uma história.

Por que relançar um filme em preto e branco?

Tudo bem, então, os diretores ainda usarem o preto e branco hoje em dia. Mas faz sentido lançarem duas versões do mesmo material? Por que não lançam diretamente a versão em preto e branco?

Há aqui o impasse entre estúdio e diretor. A maioria dos diretores não possuem o corte final de suas produções - ou seja, ele terá que negociar com o estúdio o que entrará ou não na versão do filme que irá para os cinemas. E os estúdios fazem cortes e direcionamentos visando apenas um propósito: o lucro. Para isso, cortam cenas de violência para abaixar a classificação indicativa do filme (permitindo a ampliação etária do público), criam cópias dubladas do material (mesmo que isso implique na perda de parte da atuação em cena), convertem filmes para 3D (para exibi-lo em mais salas, que cobram ingressos mais caro)… Lançar um blockbuster em preto e branco poderia afastar o grande público, que está acostumado com filmes coloridos - e os estúdios sabem disso.

Nesse caso, só há duas saídas: o diretor esquece de vez sua visão original para o material ou aproveita o lançamento em home video/streaming para apresentar ao público sua real idealização daquela história. E é nessa segunda opção que diretores como George Miller e James Mangold se encaixam. Com o sucesso de suas produções, eles receberam a autorização do estúdio para dar um novo tratamento de imagem ao filme, relançá-lo em um pequeno circuito de cinemas e disponibilizá-lo para o público em home video/streaming.

Não é só tirar a cor da TV?

Como foi dito, os filmes passam por um novo tratamento - não é apenas colocar a saturação em zero e renderizar. E esse tratamento é guiado pela proposta do diretor com a versão do longa. Enquanto Mad Max Black & Chrome apresentou os brancos com um aspecto mais metálico, Logan Noir trará alto contraste e sombras mais dramáticas - estando, então, de acordo com a estética do movimento noir.

Neste vídeo, temos uma comparação da versão original de Mad Max: Estrada da Fúria, com o vídeo em saturação zero e a versão Black & Chrome:

É provável que esse relançamento de Mad Max e Logan abra as portas para que futuros diretores tenham a mesma carta branca com os estúdios e distribuidoras. Independente disso, uma coisa é certa: não há nada melhor do que assistir a um filme da maneira como ele foi realmente idealizado.

Autor(a) do artigo

Rafael Alessandro
Rafael Alessandro

Professor, coordenador e produtor de conteúdo no AvMakers. Rafael Alessandro é formado em Comunicação, graduando em Cinema e Audiovisual e mestrando em Cinema e Artes do Vídeo pela Faculdade de Artes do Paraná.

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