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Cinema, poesia e surrealismo

Confira como os vanguardistas do surrealismo pretendiam dissolver as barreiras entre o que é real e o que é fantástico.

há 2 anos 5 meses

O mistério, o elemento essencial de qualquer obra de arte, está em geral ausente dos filmes. Autores, diretores e produtores, com sacrifício, conservam nossa paz, deixando hermeticamente fechada a janela que leva ao mundo liberador da poesia. Preferem fazer a tela refletir temas que poderiam integram a continuidade normal de nossa vida cotidiana, repetir mil vezes o mesmo drama ou fazer-nos esquecer as duras horas do trabalho diário. E tudo isso naturalmente sancionado pela moralidade habitual, governo, censura internacional e religião, dominados pelo bom-gosto e enlevados pelo humor insípido e outros imperativos prosaicos da realidade.

A declaração de Luis Buñuel, publicada em 1958, nos aponta seu descontentamento com um cinema hegemônico que vinha sendo produzido, ao passo que também defende a sua visão do que seria um cinema poético: dissolver as barreiras entre o que é real e o que é fantástico.

O que é mais admirável no fantástico é que ele não existe, tudo é real - Buñuel

Podemos encontrar no cinema surrealista, então, alguns caminhos para essa fusão entre o real e o fantástico. Como aponta Ismail Xavier, “o filme surrealista deve ser um ator liberador e a produção de suas imagens deve obedecer a outros imperativos que não os da verossimilhança e os do respeito às regras da percepção comum. Não bastam as transformações no conteúdo das cenas filmadas e a liberação do gesto humano que compõem sua narrativa. É preciso introduzir a ruptura no próprio nível da estruturação das imagens, no nível da construção do espaço, quebrando a tranquilidade do olhar submisso às regras”.

Essa ruptura às regras da percepção comum, inclusive, se aproximavam a uma possível representação dos nossos processos inconscientes, como o sonho e a alucinação, e que era algo que os surrealistas buscavam desde o início dessa vanguarda, ainda na pintura.

O cinema surrealista encarnou e encarna uma constante luta contra a sacrossanta perseverança do uso conservador dos signos contra os lacres utilizados para engarrafar a significação e imobilizá-la nos parâmetros de uma ordem social hipócrita. (Eduardo Cañizal)

Em nossa série sobre movimentos cinematográficos no youtube, produzimos dois vídeos sobre o surrealismo - um abarcando o movimento, seu contexto e principais diretores e um outro exclusivo sobre Um Cão Andaluz. Confira:


Referências

O discurso cinematográficos, de Ismail Xavier

A experiência cinematográfica, de Ismail Xavier

Surrealismo, de Eduardo Cañizal (capítulo do livro História do Cinema Mundial)

Autor(a) do artigo

Rafael Alessandro
Rafael Alessandro

Professor, coordenador e produtor de conteúdo no AvMakers. Rafael Alessandro é formado em Comunicação, graduando em Cinema e Audiovisual e mestrando em Cinema e Artes do Vídeo pela Faculdade de Artes do Paraná.

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