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As cores do medo

Confira como cinco filmes clássicos de terror utilizaram as cores e a iluminação como forma de potencializar o medo na tela.

há 2 anos 5 meses

Nesse mês, em comemoração ao Halloween, a IndieWire atualizou a lista dos 100 melhores filmes de terror de todos os tempos, publicada originalmente em 2018, expandindo a seleção para 135 filmes. Neste artigo, vamos analisar a paleta de cores dos cinco primeiros colocados da lista.


#5 - Halloween - A Noite do Terror (1978)

O azul está comumente associado a calma e a tranquilidade, o que parece contrastar com o clima de tensão da maior parte dos filmes de terror. Porém, se pensarmos no sentido simbólico em que o azul foi interpretado historicamente, como “composto de luz e trevas” (Leonardo da Vinci), ele também pode nos remeter ao confronto entre o bem e o mal, entre a personagem inocente e o assassino maligno.

Além do seu uso simbólico, o azul auxilia na sugestão de um ambiente mais escuro. Em Mad Max: Fury Road, por exemplo, mesmo que vejamos com clareza todos os personagens que projetam sombras duras no chão, o que sinaliza que as gravações foram realizadas durante o dia, o filtro azul na imagem é capaz de nos convencer de que aquela cena diegeticamente se passa durante a noite.


#4 - O Exorcista (1973)

Em O Exorcista, a utilização do azul para reforçar a escuridão do ambiente se repete. Aqui, porém, o sentido de solidão, frieza e melancolia são acentuados. É interessante notar também que as luzes diegéticas do quarto de Regan trocam de cor de acordo com o tom da cena.

As luzes amareladas criam uma ambientação mais acolhedora, relaxante e confortável, enquanto a luz azul é gélida e tende a nos deixar em alerta. Assim, nas cenas em que o demônio se manifesta com maior violência, a cor do ambiente se altera como forma de potencializar a sensação de perigo da cena.

Para além do uso das cores na cenografia e nos figurinos, não podemos esquecer que a iluminação da cena também tem influência na criação desse clima de suspense nas cenas, principalmente quando utiliza a privação de luz de maneira criativa. Como apontamos em nosso artigo sobre o Chiaroscuro no cinema, o contraste entre as luzes altas e baixas é capaz de realçar a dramaticidade da cena, distorcer o rosto dos personagens ou até mesmo ocultá-los nas sombras.


#3 - O Bebê de Rosemary (1968)

Enquanto o amarelo representa a cor da fé, do calor, da energia, basta adicionarmos um pouco de preto à mistura que teremos o marrom - uma cor que simbolizará aflição, penitência e sofrimento.

O marrom e o vermelho são predominantes no apartamento dos Castevet - o marrom pelos móveis de madeira e o vermelho em detalhes na decoração, como o abajur da sala. Já na casa de Rosemary temos a predominância do amarelo, tanto na decoração quanto em sua vestimenta.

E a iluminação quente do apartamento dos Castevet, por mais acolhedora que pareça, contrasta com o desconforto da personagem, que quer recuperar seu filho dos adoradores de Satanás e está prestes a ver os olhos vermelhos demoníacos do bebê pela primeira vez.


#2 - O Massacre da Serra Elétrica (1974)

Para uma análise do uso das cores em O Massacre da Serra Elétrica podemos dividi-lo em dois segmentos: a primeira parte, que é quase um road movie e se passa dentro da kombi, tem o verde como maior destaque, presente tanto na vegetação quanto no veículo. A sequência noturna, porém, retoma a utilização da iluminação azul como recurso que sugere a noite, por mais bem iluminada que esteja a cena.

E apesar de ser um filme slasher, em que podemos esperar litros e litros de sangue, o vermelho não é uma cor de grande destaque na narrativa - aparecendo pontualmente na cenografia em determinadas cenas. E essa economia na utilização do vermelho ao longo do enredo faz com que a cena final, da fuga da protagonista coberta de sangue, seja ainda mais marcante.


#1 - O Iluminado (1980)

Já em O Iluminado o vermelho é recorrente durante toda a narrativa, e seu potencial simbólico de perigo e prelúdio para a morte está presente desde os primeiros minutos de filme - tanto no figurino dos protagonistas quanto na cenografia do hotel.

Kubrick também não teve pudores na utilização de sangue na tela. Duas cenas se destacam: as gêmeas mortas no corredor, que tem o chão e paredes cobertas de sangue, e a onda de sangue que vem do elevador.


E se você quer saber mais sobre o uso simbólico das cores no cinema, confira nosso vídeo que analisa como filmes clássicos exploraram o potencial simbólico e narrativo de diferentes cores, tanto na direção de arte quanto na iluminação:

Autor(a) do artigo

Rafael Alessandro
Rafael Alessandro

Professor, coordenador e produtor de conteúdo no AvMakers. Rafael Alessandro é formado em Comunicação, graduando em Cinema e Audiovisual e mestrando em Cinema e Artes do Vídeo pela Faculdade de Artes do Paraná.

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