Cinema

Como compor figurinos

há 4 anos 5 meses

Todo figurino ajuda a compor aquilo que a história quer contar e exige uma pesquisa muito delicada para que o conteúdo da história esteja em sincronia com o que os atores vão usar durante a produção

É impossível não nos lembrarmos de figurinos de grandes filmes que nos marcam: o chapéu e chicote de Indiana Jones, o smoking clássico do agente 007, James Bond, ou do icônico uniforme do Capitão América. Cada um desses figurinos se encaixou tão bem com as suas histórias que se tornaram uma marca e uma lembrança inconfundível das personagens que representam.

Mais do que ser apenas um item decorativo, o figurino é um dos compositores de sentido da sua produção, contando muito sobre a personalidade e realidade na qual vive a sua personagem.

Mas, para que o figurino cumpra com o seu papel, é necessário realizar alguns passos, buscando referências que sejam condizentes com o contexto que a sua personagem está inserida, e é sobre isso que a gente vai falar hoje.

Faça uma pesquisa aprofundada

Por mais que a internet tenha vindo para facilitar a vida das produções - e isso inclui a Direção de Arte -, é importante lembrar que há diferença entre uma pesquisa feita somente por meios digitais e outra que pode ser conduzida observando e coletando dados presencialmente.

Por mais plural que a internet possa ser, ela acaba sendo muito parcial ao descrever um determinado contexto que você quer retratar dentro do seu universo. Assim, tente fazer o máximo para ultrapassar os limites da internet e, se possível, também vivenciar aquela realidade que é necessária para você criar um figurino condizente.

Vamos imaginar que você quer apresentar um jovem adulto de uns 30 anos, morador da cidade de São Paulo em 2019.

Por mais que os meios e plataformas digitais ofereçam uma grande ajuda no momento da pesquisa, mostrando o que é ou não tendência, ou o que essa personagem pode ou não usar, é interessante que você some à sua pesquisa uma visita a ambientes que pessoas nas mesmas condições da sua personagem vivem para entender melhor como ela se vestiria.

A veracidade, ou poder de convencimento, de um figurino está relacionado à sua capacidade de realizar uma boa pesquisa — e isso não se limita à cenários e personagens realistas, já que é possível construir bons figurinos mesmo que o universo daquela personagem não tenha qualquer conexão com o mundo real.

O grande segredo para quem está construindo um figurino é a habilidade de sair da zona de conforto e se permitir surpreender por uma realidade que ultrapasse um estereótipo.

Crie um contexto que seja crível

Filmes como Pantera Negra (2018), que revela um universo de heróis restrito aos quadrinhos (o Reino de Wakanda), são icônicos pelo seu figurino por espelharem a realidade assim como podemos enxergar todos os dias e também por criar algo que, ainda assim, podemos assimilar como crível.

O que fez com que o filme fosse premiado com o Oscar em Figurino foi exatamente a capacidade de seus idealizadores de imaginarem um conceito que ultrapassasse a visão “tribal” estereotipada que existe ao retratar povos do continente africano: sem grandes tecnologias ou recursos “ocidentais”.

Uma boa pesquisa evita cair em clichês.

Pergunte-se

Uma das melhores maneiras de ter crédito no seu figurino é se perguntar: Como essa pessoa se vestiria no mundo real?

Ainda que a sua personagem viva em um universo fictício, como o exemplo do filme Pantera Negra (2018), imagine se seria possível que ela vestisse uma peça com uma determinada cor ou corte, ou ainda se há ou não mais peças que compõem aquele figurino, ou se há uma diferença entre o que homens e mulheres usam dentro daquele contexto.

Estabelecer perguntas é a forma mais óbvia de obter respostas.

Busque por referências

As referências são um dos principais apoios ao Diretor de Arte e elas estão em todos os lugares e tempos na história da arte. Sempre tem algum pedaço dessa história que pode ser usado como inspiração para criação de novos figurinos.

A importância das referências históricas fazem com que filmes como O Grande Gatsby (2013) tragam em seu figurino a marca estética típica dos anos 1920.

Depois de estabelecer uma época, universo, tom e atmosfera para o seu filme, você pode procurar por outros filmes, obras de arte, peças de alta costura e alfaiataria, fotos de revistas famosas na época, entre outras referências.

Estude os aspectos psicológicos da personagem

O figurino é um item narrativo poderoso para contar sobre a personalidade e maneira de pensar das personagens. Muitas personagens evoluem em suas histórias a partir da transformação do seu figurino, como acontece em O Diabo Veste Prada (2006).

A maneira que a vida de Andy Sachs é transformada ao longo da história, indo de uma garota mais tímida e insegura, sem “relações” com o mundo da moda, para uma profissional da importante revista de Miranda Priestly, é evidenciada através da troca de figurinos que ocorre em uma cena em que ela anda pela cidade.

Entenda a importância do figurino para seus atores

No momento da construção da personagem por parte dos atores, o figurino é um dos itens que permite que essa construção seja feita de maneira mais fluída. Ao vestir seus figurinos, os atores têm a chance de imergirem no contexto que foi imaginado para aquela personagem, o que os transporta para a realidade delas.

Dentro da Direção de Arte, a construção do figurino é um daqueles detalhes que pode fazer toda a diferença dentro da sua produção, atuando como um item narrativo que também conta a história de maneira única, fazendo com que todo o conteúdo do seu filme transmita a mensagem.

Autor(a) do artigo

João Leite
João Leite

Escritor e redator, formado em Rádio e Televisão pelo Complexo FIAM-FAAM, apaixonado por literatura e observador míope do espaço sideral.

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